Amazonas: O eldorado para a prática do birdwatching

Durante a aventura em Presidente Figueiredo, é possível observar o raro Galo da Serra – Fotos: Clóvis Miranda

Das 1.300 espécies de aves existentes na Amazônia, o Amazonas tem 929 delas. O número significativo tem atraído cada vez mais ecoturistas e amantes do birdwatching (observação de aves), sobretudo para Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), que possui 480 aves catalogadas, entre elas algumas raras como o misterioso uirapuru (Cyphorhinus arada) e o galo da serra (Rupicola rupicola).

A atividade, que mistura aventura com contemplação da natureza, é explorada há mais de 10 anos no município por turistas que se encantam com as vozes da floresta. O birdwatching – que contribui no combate à depressão e ansiedade – conta com operadores do trade, que recebem anualmente mais de 5 mil turistas entre brasileiros e estrangeiros. Presidente Figueiredo tem se destacado na observação de aves devido à proximidade da capital, com acesso pela BR-174 (Manaus-Boa Vista), e pelo eldorado verde entrecortado por belas cachoeiras, grutas e cavernas.

 

Aventura e o canto da floresta  

No último fim de semana, técnicos do setor de marketing da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur) vivenciaram a experiência de um passarinheiro, embrenhando-se nas trilhas por aproximadamente seis horas de caminhada e muita aventura.

Sob a orientação da guia de turismo e bióloga Juliene Tavares (Biotur), os técnicos não se intimidaram com o forte calor e umidade dentro da Reserva de Patrimônio Privado Natural (RPPN) da Onça e caminharam em busca do “Canto da Felicidade”, a melodia produzida pelo uirapuru.

Durante todo o percurso, o turista vai se encantar com a beleza natural da RPPN, que comporta duas trilhas (Orquídeas e da Onça) de mais de 1 quilômetro, bem como a bela Cachoeira da Onça.

Depois de quase 35 minutos de caminhada, pelas trilhas, é possível ouvir o som da ‘divina flauta da vida’ emitido pelo uirapuru. O som alto do ‘maestro da Amazônia’ encanta os observadores, sobretudo pela raridade em que a ave aparece, pois ela só canta de 15 a 20 dias por ano, entre os meses de agosto e outubro. “Foi algo bem atípico o que ocorreu hoje”, comentou a guia.

 

Para encontrar os pássaros raros, o observador precisa caminhar cerca de seis horas

 

Caverna Maroaga  

Ainda em Presidente Figueiredo, o turista tem a opção de se aventurar por aproximadamente 3 horas e 30 minutos pelas trilhas da Área de Proteção Ambiental (APA) da Caverna do Maroaga (atrativo espeleológico), no km 6 da estrada de Balbina (AM-240).

Todo o esforço, que exige um condicionamento físico em dia, se dá em busca da observação do raro galo da serra, ave símbolo de Presidente Figueiredo, já que o pássaro é mais encontrado no Brasil somente nos estados do Amazonas e Roraima, devido às grutas, cavernas e florestas.

Durante o percurso, o visitante vai se encantar com a caverna do Maroaga, que tem cerca de 470 metros de grutas, com rochas de arenito de mais de 400 milhões de anos. No local, é o possível passarinhar o galo da serra fêmea (cor mais marrom), que faz ninhos dentro das cavernas.

A observação exige total silêncio, uma vez que qualquer movimento afasta do galo da serra do local. “Eles (galos da serra) adoram muita floresta de campinarana. Muitos passarinheiros vêm de todo o mundo observar essas aves”, explicou Juliene.

 

Depois de quase seis horas de trilhas, o turista encontra o paraíso com a gruta do Maroaga

 

Turismo ornitológico (observação de aves) 

De acordo com o mestre em ciência ambientais, o pesquisador Maurício Noronha, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o turismo ornitológico é um dos que mais crescem no mundo, e o Amazonas se destaca como o maior “Portal de Observação de Aves” da América Latina. Segundo ele, o perfil do birdwatchers é de bom nível socioeconômico, com disposição para encarar aventuras e ampliar o número de espécies avistadas nas suas listas pessoais.

Ao todo, são 100 milhões de observadores pelo mundo, sendo que os maiores emissores para o Amazonas são Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Japão, Alemanha. Em média, os birdwatchersgastam US$ 70 com pacotes turísticos, permanecendo entre 4 e 9 dias na região. No Brasil são cerca de 35 mil observadores, tendo como principais emissores o Pantanal, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro e Amazônia.

O Parque Nacional de Anavilhanas, em Novo Airão, e Mamirauá, em Tefé, também são locais com atrativos para os observadores de aves. “Em Anavilhanas, algumas ilhas possuem espécies únicas daquele lugar. O Amazonas tem um potencial muito forte no setor”, frisou o pesquisador.

O misterioso Uirapuru é encontrado na RPPN da Onça, em Presidente Figueiredo